Numa conversa sobre belos poemas, uma colega me disse que não gosta de versos tristes, por isso lê apenas os que enaltecem a vida e a põem para cima. Comentei com ela que há aqueles que vão à poesia buscar ajuda terapêutica e há outros que recorrem aos versos a fim de se impressionarem com as nuances da alma humana. Por falar em nuances da alma humana, acho que ninguém as descreveu melhor do que Bocage. Vejam estas pérolas.
A Filosofia Prestes A Ceder Aos Golpes da Adversidade
Tenho assaz conservado o rosto enxuto
Contra as iras do Fado onipotente;
Assaz contigo, ó Socrates, na mente
dor neguei das queixas o tributo:
Sinto engelar-se da constância o fruto,
Cai no meu coração nova semente;
Já não me vale um ânimo inocente;
Gritos da natureza, eu vos escuto.
Jazer mudo entre as garras da amargura,
D'alma estoica aspirar a vã grandeza,
Quando orgulho não for, será loucura.
No espírito maior sempre há fraqueza,
E, abafada no horror da desventura,
Cede a filososfia à natureza.
Conformidade com os decretos da Providência
A frente que de louro ergui vencida,
Ufana do louvor e da inocência,
Jaz por efeito de hórrida aparência,
Curvada pelo opróbrio e denegrida;
De mil gratos objetos guarnecida
Rutilava a meus olhos a existência;
Hoje, amável prazer, na tua ausência
Parece aos olhos meus um ermo a vida.
De quantas cores se matiza o fado!
Nem sempre o homem ri, nem sempre chora,
Mal com bem, bem com mal é temperado;
Os estados variam de hora em hora;
Sábio o mortal que em um, que em outro estado
Dsposto a tudo, a Providência adora.
Bocage.
Um comentário:
D'alma estoica aspirar a vã grandeza,
Quando orgulho não for, será loucura.
Quando não for pelo orgulho, vai a golpes de marreta.
Muito bom! A ciência e a lógica humana como uma falácia em absoluto, não tem nem relatividade.
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