domingo, 23 de maio de 2021

O PACTO DO CASAMENTO

 

 É melhor ter companhia do que estar sozinho, porque maior é a recompensa do trabalho de duas pessoas. (Ec 4.9).

 Assim, eles já não são dois, mas sim uma só carne. Portanto, o que Deus uniu, ninguém o separe. (Mt 19.6

Goza a vida com a mulher que amas, todos os dias da tua vida vã, os quais Deus te deu debaixo do sol, todos os dias da tua vaidade; porque esta é a tua porção nesta vida, e no teu trabalho, que tu fizeste debaixo do sol. Ec 9.9. 

 

VERDADE PRÁTICA

O nosso esforço deve ser por um pacto matrimonial/ que dure a vida inteira,/ e dure prazerosamente/ apesar das dificuldades que, sem dúvida, surgirão.

 

1. PACTO MATRIMONIAL

 Porque o Senhor foi testemunha entre ti e a mulher da tua mocidade, com a qual tu foste desleal, sendo ela a tua companheira, e a mulher da tua aliança. Ml 2.14.

Comecemos por esclarecer o sentido teológico-espiritual que fundamenta a instituição do casamento, ou seja, o casamento em relação a Deus. Por que será que Deus dá tanta importância ao casamento? E por que o bom casamento exalta a Deus? 

 Primeiramente, o princípio que estabelece o casamento remete-nos à ideia de pacto, palavra que acolhe o abrangente significado da relação de Deus na Trindade e entre Deus e seu povo.

 Na Bíblia, Deus escolheu a expressão pacto como um modo especial de demonstrar promessas inabaláveis. É, portanto, muito esclarecedor o fato de que Ele tenha vinculado o pacto ao casamento.

 A palavra pacto (cortar), na Escritura Sagrada, representa uma ocasião séria na qual as partes selam sua promessa no meio de um ato de dilaceramento de animais, o que envolve sangue, e tem embasamento bíblico-histórico no pacto firmado entre Deus e Abraão (Gn 15).

 O pacto matrimonial original foi alcançado quando Deus casou o primeiro casal, Adão e Eva. Então a importância que Deus deu ao fato de um homem e uma mulher manterem fidelidade um ao outro por toda vida é um tema recorrente em todo o Antigo Testamento.

 Deus estava criando, ainda no Éden, o modelo primeiro e último, e o mais adequado, do que seria o seu relacionamento íntimo com o seu povo, dentro de um modelo pactual, de corpo e alma.

 Somente o casamento, que é a relação mais íntima entre duas pessoas, tem condição de simbolizar a relação de Deus como o seu povo. Haja vista que, no Antigo Testamento, Deus é chamado marido de Israel (Os 2.2,20; Is 54.5; Ez 16.8-14) e no Novo Testamento, Jesus é chamado de noivo da igreja (Ef 5.25-27). Isso é muito sério.

 Destarte, O relacionamento de Deus com o seu povo é um envolvimento de almas, ilustrado pelo casamento.  Então, no casamento está em foco a ideia de união espiritual (depois que junta, não desmantela mais), e não apenas uma união social ou biológica. Isso nos permite dizer que, por ordem de Deus, haverá uma conexão mais íntima entre o homem e a mulher do que entre pais e filhos (Adam Clarke). E não há ninguém mais importante para uma pessoa do que seu cônjuge.  

 Será que a gente pensa nisso quando casa? Imagina! Enquanto namoramos, estamos sobremodo apaixonados, ou pressionados de mais para pensar nessas coisas. No dia do casamento, estamos exaustos e ansiosos demais para pensarmos nas palavras pactuais pronunciadas pelo celebrante. A preparação da festa, a roupa da noiva, o salão, os convidados etc. A cerimônia ocorre rápido, muitas delas não enfatizam um pacto, mas apenas um acordo.

 

 2. UM PACTO QUE DURE A VIDA TODA.

Assim não são mais dois, mas uma só carne. Portanto, o que Deus ajuntou não o separe o homem. Mt 19.6.

 Goza a vida com a mulher que amas, todos os dias da tua vida vã, os quais Deus te deu debaixo do sol, todos os dias da tua vaidade; porque esta é a tua porção nesta vida, e no teu trabalho, que tu fizeste debaixo do sol. Ec 9.9. 

 Ao escolher alguém para se casar, a pessoa está escolhendo aquele ou aquela que passará toda a vida ao seu lado, pois o casamento, na ótica de Deus, é indissolúvel. Por isso, os cônjuges devem zelar bem do relacionamento, tendo sempre o casamento em alto conceito.

 

2. Duas formas de fortalecer o casamento.

2.1 Decida que você vai ser feliz

2.1. Decidir afetiva e volitivamente que vai viver com essa pessoa.

Isso equivale a ter tudo em comum.

Valores: lealdade, companheirismo e cuidado.

 2.1.2 Eliminar o fantasma da possibilidade de separação, que enfraquece a aliança.

 Disposição para permanecer casados. Não me instes para que te abandone, e deixe de seguir-te; porque aonde quer que tu fores irei eu, e onde quer que pousares, ali pousarei eu (verso 16).

 O casamento não pode ser um projeto que se entra para arriscar. Nesse sentido não se pode deixar a porta entreaberta. É preciso ao mesmo de disposição para entrar, disposição para não sair.

 Nós não conduzimos nossa relação matrimonial dentro de uma possibilidade de rompimento. Portanto, nos momentos de tensão, nosso esforço deve correr sempre no sentido de resolver e superar, por mais difícil que pareça ser.

Todo casamento cujos membros têm a consciência permeada pela possibilidade de separação tem grandes chances de não dar certo, porque cada um dos cônjuges, nas horas de tensão, vai enxergar o fim do relacionamento como uma possível saída, boicotando as medidas corretas, e às vezes amargas, para pôr fim à crise. Ficam sempre em cima do muro e nunca tomam a real decisão de serem felizes a qualquer custo.  

Muitos dos desgastes que acontecem nos casamentos acontecem porque os cônjuges trabalham, consciente ou inconscientemente, com a ideia de que se não der certo, a fila anda, como se um pacto pudesse se desfazer facilmente.

2.3 Busque ajuda sempre que preciso. Por outro lado, quando os cônjuges têm um alto conceito da importância do casamento e decidem que vão superar quaisquer intempéries, são movidos a buscar todos os recursos disponíveis para salvar o que nunca deveria ter sido posto em risco.

Ademais disso, convém salientar que casar significa o sacrifício de todos os antigos caminhos e possibilidades precasamento.  Isso esta na sentença: “Deixará o homem seu pai e sua mãe, e se unirá a sua mulher...”.  Como posto por Champlin:

 

 “Quantos empreendimentos têm sido deixados de lado porque a pessoa envolvida não pode impedir-se de olhar para trás? Lembremos a esposa de Ló. Deixar o antigo para lançar-se ao novo é a primeira e grande garantia de sucesso. Um homem dividido entre a mãe e esposa acha-se sobre um alicerce muito fraco. Acabará não agradando a nenhuma das duas, e ambas serão infelizes com ele. Disse Adão: ‘Considere o modo como eu tive de fazer isso. Eu tinha somente a minha esposa’. Assim também qualquer outro homem, quando se casa, tem apenas a sua esposa. Visitas vindas de membros da antiga família serão suficientes. [...] O autor sagrado não nos encoraja a sermos negligentes no tocante aos nossos pais. Continuemos a servi-los, na medida do possível. O amor filial continuará rebrilhando. Mas ele diz: ‘Sai da casa de teus pais’. Uma mãe é como a terra natal de um homem. Uma esposa é como um país para onde ele migrou. Ninguém pode viver em dois países ao mesmo tempo. Tal homem ama a ambos, mas sua presença física manifesta-se na sua própria pátria.”

 

2.3 Renove seus votos, contra o desgaste e engano do tempo.

 E com o tempo a gente vai se acostumando a conviver com a presença de alguns e a ausência de outros.

 O tempo faz tudo se desgastar

O amor fica monótono, a saudade já não aperta mais,

a ansiedade torna-se inconstante.

e até as palavras passam a não expressar nada...

E o silêncio ajuda. Kaliandro Souza


A aliança matrimonial é a figura perfeita usada pela Bíblia para ilustrar a aliança entre Deus e seu povo. E da mesma forma que Deus costumava renovar frequentemente o pacto firmado com Israel (Gn 12, 15,16; Dt 29.1-29), numa prevenção contra a memória curta e o desgaste do tempo, o pacto matrimonial precisa ser periodicamente renovado.

A prática de renovação de aliança matrimonial está em ascensão atualmente. Várias celebridades têm reafirmado a lealdade ao parceiro em festas pomposas com direito a todos os rituais próprios do casamento, o que vejo como algo muito positivo.

Aos que não dispõem de tanto recursos, poder-se-iam aproveitar datas especiais, como o aniversário do casamento, para renovar a aliança e relembrar compromissos.

 Sou a favor de que haja memoriais em cada canto estratégico de nosso espaço para nos lembrar de nosso pacto matrimonial. Num lugar bem destacado da casa ou do escritório, um quadro com uma fotografia dos noivos no memento solene do matrimônio, bem como das testemunhas, como a olharem em nossa direção exigindo de nós o cumprimento das promessas firmadas no altar. No lugar onde eu passo maior parte do tempo em minha casa tem uma fotografia minha ao lado de minha esposa com a frase que colocamos no nosso convite de casamento há treze anos. Toda vez que olho para aquele quadro na parede, lembro-me de que jurei fidelidade eterna a uma mulher, isso assombra os fantasmas da possibilidade de rompimento.

 3. QUE DURE PRAZEROSAMENTE

Bebe da água da tua fonte e das correntes do teu poço. Sejam para ti só e não para os estranhos contigo. Seja bendito o teu manancial e alegra-te com a mulher da tua mocidade. Como cerva amorosa, e gazela graciosa, os seus seios te saciem todo o tempo; e pelo seu amor sejas atraído perpetuamente. (Pv 5.15-16).

 O passo mais importante para se ter um casamento feliz é a firme decisão de que se vai ser feliz no casamento.  

 O prazer e a felicidade são as aspirações que movem as pessoas, então são coisas que se encontram.  

Toda aliança matrimonial deve começar com a firme decisão das partes de que terão um casamento saudável e feliz, e esse é o passo mais importante para ser feliz no casamento.  Porque casamento feliz não é fruto do acaso. Casamento é uma instituição que, como qualquer relação na vida, precisa de investimento.  Considere.

3.1 Um casamento feliz só pode ser a soma das felicidades de duas pessoas que são felizes. Portanto é a entrega voluntária ao outro e a promoção do outro. Porém vale uma observação: quando eu me entrego ao outro, eu entrego aquilo que sou e tenho. Portanto um casal feliz pressupõe que cada um dos parceiros é o responsável direto pela própria felicidade e vai compartilhar isso com o outro. Por isso que a gente precisa se cuidar (ver o caso do marido adoecido).

 3.2 Investir em novidades (contra a rotina). Investir em novidades no casamento não significa fazer uma coisa nova toda semana. Deste modo, as novidades viram rotinas. Mas significa investir em novidade com qualidade.

 3.3 Investir numa vida afetivo-sexual plena e prazerosa (contra os tabus do sexo).

●Com o tempo, a qualidade conta mais que a quantidade.

●Os limites nas fantasias e criatividade sexuais devem ser traçados pelo bom senso, pelo consenso e pela consciência.

●Benefícios do sexo: vida mais longa, queima calorias, tonifica os músculos, menos riscos de doenças cardíacas, boa pressão arterial, alívio de dores, controle de peso alivia o estresse, melhora o humor, muito bom para a autoestima.

●Fatores que prejudicam a vida sexual (estudo no HC). Ansiedade, estresse, insônia, tabagismo, álcool, má alimentação, sedentarismo, medicamentos.

      

3.3 Investir numa vida saudável pode ajudar no desempenho sexual e, portanto, numa vida prazerosa. A preocupação com a saúde (dormir bem, exercitar-se, boa alimentação). Algumas recomendações: viva leve. Cuide de você. Não deixe que os outros vivam sua vida por você. Cuidado com a ansiedade. Nunca vire refém de nada nem ninguém.  

 

4. APESAR DAS DIFICULDADES QUE, SEM DÚVIDA, SURGIRÃO.

 No entanto, os que fizerem isso (casarem) terão dificuldades na vida (1Co 7.28).

 A gente já sabia que elas viriam. E elas se originam em alguns elementos.

4.1 Dificuldades da condição humana é uma fonte inesgotável de dificuldades, elas alteram e prejudicam muito as relações (crise financeira, doença, envelhecimento etc.). A gente precisa ter discernimento para entender o nosso momento e o quanto que isso está afetando a relação e buscar fatores de redução de danos.

 4.2 De nossas diferenças individuais. Cada pessoa é única e carrega manias e vícios que vão irritar a outros. Algumas coisas não mudam, porque estão arraigadas na personalidade. O segredo é aprender a viver.

 4.2 De nossas frustrações. As fantasias iniciais dão lugar à realidade. Sem tolerância, compreensão e autossacrifício não haverá casamento saudável, duradouro e feliz. Pegue todas aquelas regrinhas que te passaram: dar presentes, flores, passear etc., se não houver os elementos acima elencados, não tem casamento que resista. 

 4.3 De nossas diferenças de gênero. Existem diferenças quase insuperáveis entre homens e mulheres.

 O que as mulheres não devem esperar dos homens

►Que ele saiba ouvir como se fossem suas amigas.

►Não deem soluções precipitadas ou não ofereçam conselhos que não foram pedidos.

►Tenham uma sensibilidade parecida e deem importância às coisas que são fundamentais pra elas.

►Reparem nos detalhes, lembrem-se de datas e surpreendam as mulheres com propostas criativas.

►Sejam capazes de não interpretar literalmente o que as mulheres dizem e saibam captar as emoções de sua comunicação não verbal.

►Não interrompa à mulher quando ela fala.

►Não reajam mal quando estiverem fazendo alguma coisa e as mulheres lhe fizerem perguntas ou lhe pedirem ajuda em uma tarefa específica de casa.

►Que os homens gostem de fazer compras.

►Não seja um sexo maníaco.

 

O que os homens não devem esperar das mulheres

►Sejam diretas quando falam, sem se perder nos detalhes.

►Façam uma coisa de cada vez, quando a sua natureza lhes permite realizar várias tarefas ao mesmo tempo eficientemente.

►Saibam que eles não são bons conversadores e que não queiram falar com ele quando chegam em casa.

►Deixem de ser românticas e se mostrem pragmáticas nas relações afetivas.

►Respondam sexualmente da mesma maneira que eles.

► Não goste de fazer compras, falar de roupas, moda, etc.

  

5. UM PLANO

●Antes de tudo decida que seu casamento será uma bênção. Queira viver bem.

●Precisamos investir no casamento (dinheiro, tempo, comunicação).

●Precisamos ter uma opinião elevada do pacto matrimonial (contra a banalização).

●Pôr o casamento no lugar certo na escala de prioridades da vida (contra a inversão de valores).

●Que posição seu casamento ocupa na sua lista de prioridades?

●Ter uma opinião elevada significa avaliar quanto vale para você seu casamento ou seu parceiro. E avaliar significa comparar com as outras coisas. Qual é a real importância de seu casamento para você? Comparando com o seu trabalho, carro, carreira, ministério, amigos, qual a posição que seu casamento ocupa? Muitas pessoas vivem uma contradição muito grande entre o que dizem sobre o seu parceiro e a maneira como trata seu parceiro (dar o exemplo da amiga).

 ●Investir em comunicação. Nas entrevistas terapêuticas, descobre-se com frequência que o problema conjugal está na ordem invertida das prioridades estabelecidas, constatando-se que a família nunca esteve no topo dessa ordem. O seu cônjuge deveria ser o que você tem de mais importante na vida!

Quanto vale a sua família? O que o seu cônjuge significa para você? Será que algum sucesso, em qualquer área da vida, justifica o sacrifício de sua família? O que mais poderia assumir o topo das prioridades de uma pessoa do que essa instituição sagrada de cuja saúde depende uma sociedade saudável? Toda escolha que eu for fazer, preciso usar o meu casamento como parâmetro e perguntar se vai ser bom ou prejudicial a ele. 

                                                                                                                        Josafá Rosendo de Lima