domingo, 31 de julho de 2022

PARÁBOLA DOS TALENTOS

 

I.                   A DISTRIBUIÇÃO DOS TALENTOS

Porque isso é também como um homem que, partindo para fora da terra, chamou os seus servos, e entregou-lhes os seus bens (25.14).

1. Sentido original da palavra talento. Hoje, quando ouvimos dizer que alguém tem talento para alguma coisa, entendemos de imediato tratar-se de alguém com grande capacidade para algo. Por exemplo, dizemos que fulano tem talento para a música, esporte, liderança, etc. Mas nem sempre esta palavra teve essa conotação. Originalmente, o talento era uma unidade de peso, depois veio a ser uma unidade monetária equivalente a seis mil denários. O denário valia o trabalho de um dia. Então, um talento equivalia o trabalho de um homem por mais ou menos 18 anos.

2. Significado simbólico de “talentos” na parábola. Foi a partir da parábola de Jesus em Mateus 25 que a palavra talento começou a ter a conotação que tem hoje, haja vista que a interpretação desta parábola lança luz no sentido simbólico da palavra talento, sentido que pode englobar tanto dons espirituais quanto habilidades naturais das pessoas. Há estudiosos que preferem se ater ao significado espiritual dos talentos, mas há também os que interpretam de forma abrangente.

Algumas controvérsias aparecem nas opiniões dos teólogos sobre o real significado de “talentos” na parábola, mas todas as interpretações parecem razoáveis. Champlin apresenta algumas das intepretações em sua monumental obra O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo[1], conforme visto abaixo.

Alguns afirmam tratar-se das habilidades com que servimos a Deus, quer naturais, quer espirituais. Outros afirmam tratar-se da oportunidade espiritual, ou a outorga do conhecimento da verdade que Deus dá de si mesmo e de seu caminho da salvação. Para outros, a verdadeira interpretação parece bem ampla, que incluiria as habilidades concedidas por Deus, tanto naturais quando espirituais, com as quais podemos servir aos homens e glorificar a Deus, e também as oportunidades espirituais que recebemos. Teremos que prestar contas tanto do que fazemos como do que sabemos.

Se considerarmos que os talentos foram entregues a cada um segundo a sua capacidade natural, logo entendemos que os dons naturais que cada indivíduo possui e dons sobrenaturais estão imbricados.

3. Homem se ausentado do país. É uma expressão antiga para “viajar para o estrangeiro” e alude à ideia de alguém que se ausenta de seu país e do meio de seu povo por um período considerável de tempo. No contexto em que a parábola foi proferida, o sermão escatológico, podemos de imediato reconhecer que este senhor que se ausenta é uma referência ao próprio Jesus que, em breve, retornará ao céu, com a consequente promessa de sua parousia.

4. Os servos são chamados para receber os talentos

Uma forma antiga de os senhores tratarem seus escravos. Enquanto estivesse ausente, o senhor cuidaria de seus bens por meio de seus servos. Claro está que ele deseja tirar lucro de suas posses. Assim, dois caminhos estavam à frente, ou poderia fazer dos escravos agentes seus. Estes poderiam arar a terra, vender o produto do plantio e usar o dinheiro resultante como capital, para negociar, e aí haveria um contrato entre eles sobre quanto deveriam lucrar. Era o meio mais primitivo de fazer. O outro meio era valer-se dos bancos, do sistema de empréstimo a juros, inventados pelos fenícios que, nos dias de Jesus, estava em franco funcionamento por todo o império romano.

II.                A JUSTA DISTRIBUIÇÃO DOS TALENTOS

Originalmente o talento era um peso que variava de 26 a 36 quilogramas. Se de fato, seis mil denários fossem o valor de um talento, como já tivemos a oportunidade de ver supra, um talento corresponderia a seis mil dias de trabalho. Seriam necessários quase 20 anos para que um homem ganhasse essa quantia, ou seja, o trabalho de uma vida inteira. O escravo que recebeu cinco talentos recebeu um valor que lhe custaria trabalho de cerca de 90 anos para conseguir. Era considerável o valor que o senhor da parábola deu aos seus servos.

Temos compreensão de quão grande responsabilidade Deus confiou aos seus servos.

1. O que recebeu cinco talentos (vv 16, 19-21).

Ao receberem, saíram imediatamente e negociaram com eles. Foram rapidamente, porque tinham consciência de que precisavam dar o melhor de si, deixar aflorar todo o potencial, aproveitando todo o tempo que tivessem. Movidos pela diligência e objetivando a excelência.

O “imediatamente” convida o crente à prontidão e à diligência. Diligência envolve obediência, lealdade, senso de responsabilidade e certeza de recompensa no retorno de seu senhor (ver 1Co 15.10; Fl 4.13).

“Diligência” é uma virtude que combina persistência criativa, esforço inteligente, planejado e executado sem atrasos. É o oposto da indolência e ociosidade que vamos ver e discutir no comportamento do servo que enterrou o talento. Na Bíblia, a palavra grega é quase sempre traduzida por verdadeira seriedade, esforço sério ou, às vezes, ter pressa.

Como é forte este termo “imediatamente”. Não houve demora. Eles não sabiam quanto tempo o seu senhor ficaria ausente, por isso, tão logo partiu, começaram a negociar. Tudo o que te vier à mão para fazer faze-o conforme a tua força. (Luckyer, 1999; p. 278).

O tempo que temos é muito limitado, e a gente não pode adiar aquilo que é essencial na vida. Há pessoas que passam a vida toda procrastinando atividades fundamentais e são enroladas e impossibilitadas pelo tempo fugaz. Há uma música do grupo Nenhum de Nós que diz que o tempo engana aqueles que pensam que sabem demais. Há aqueles que dizem “amanhã eu faço”, “depois”, “próxima semana”, “próximo ano” e... o amanhã deles nunca chega.

Uma grande tarefa da vida é conseguir separar o que é importante do que é trivial, e depois separar o que é importante do que é indispensável. O trivial pode esperar até que o importante seja feito. E o importante terá que esperar até que o indispensável seja realizado. Há pessoas que gastam energia demais naquilo que é trivial. Há alguns que gastam toda a energia naquilo que é importante e acabam misturando o que importante com o que é indispensável. Ei, isso é indispensável para você? Vá imediatamente.

2. O que recebeu dois talentos.

Embora não igualmente produtivo, o escravo que recebeu dois talentos mostrou-se fiel. Ele poderia ter-se ressentido, sentir-se diminuído ao comparar-se com o que recebeu cinco. Mas não considerou nada disso, sabia que tinha recebido de acordo com sua capacidade e precisava trabalhar com o que tinha. Ademais, ele poderia ter ficado atrapalhado com o tamanho da responsabilidade superior a dois talentos. Segundo a avaliação do seu próprio senhor, ele não possuía capacidade para mais que isso. Deus não dá nem a mais nem a menos de nossa capacidade. Destarte, a gente corre o risco de cometer dois grandes erros na vida: 1) não fazer tudo o que a nossa capacidade nos permitiria ter feito; 2) querer ir além daquilo que é nossa capacidade.

            Há pessoas que passam a vida toda se ressentindo do que não possui e se esquecem de trabalhar ou mesmo desfrutar o que tem. Ei, o segredo da vida não é focar o que falta, mas investir no que se tem. Não é o que eu não tenho: é o que eu tenho. Deus que empreguemos proveitosamente tudo aquilo que temos, independente da quantidade. Pode ser a oferta da viúva pobre (Lc 21). Tem um hino que diz: “Dê o seu melhor, isso é o que Deus quer...”.   

Ambos os servos dobraram o valor, 100%. “Ao recebermos a graça, temos crescido na graça? Nosso desejo de orar tem se intensificado? A nossa esperança está mais firme e real? As aspirações do passado amadureceram? A nossa experiência espiritual e os resultados do nosso trabalho têm se multiplicado?” Somo espiritualmente prósperos ao negociar os bens do mestre? Aproveitamos ao máximo os talentos espirituais que nos foram confiados e, em vez de estoca-los, negociamos com eles para alegria e honra daquele que é o doador de todo o dom perfeito?

  3. O que recebeu um talento.

É deste homem que extraímos a principal lição desta parábola. Aliás, a parábola parece ter sido narrada por causa da condição ilustrada pelo homem que recebeu apenas um talento e o enterrou. Ele vai fazer usando uma argumentação que apenas disfarça sua preguiça e negligência.   

Fico me perguntando quais as suas reais razões. Talvez ele tivesse medo de perder o talento, logo o enterrou como medida de segurança. “É muito patético quando os homens têm medo de perder o que não vão usar”. Nunca perdemos o que usamos.  

Não foi uma desobediência ativa, mas passiva. Ele não foi desonesto. Ele não agrediu o talento, não o deteriorou, mas deixou de transformá-lo em lucro. Note que ele não foi desonesto. Ele foi, isso sim, preguiçoso, negligente e indigno de confiança. Não basta apenas se desviar da prática do mal, é indispensável se dedicar à prática do bem. Não basta apenas preservar o que tem, é necessário produzir alguma coisa.

Era um daqueles servos que não são externamente maus, mas que, no íntimo, são improdutivos, despreocupados e egoístas. Indiferença espiritual.

A parábola nos mostra que a indiferença para com a inquirição espiritual é uma maldade mortal e aberta (ver o caso de Esaú). Fala de alguém que gozou de oportunidades espirituais, mas que não lançou mãos delas, chegando mesmo a ignorá-las (ver o caso de Israel).

Ou o crente em Cristo que pode desperdiçar a vida seguindo coisas que não são compatíveis com a verdadeira vida de um discípulo genuíno ou negligenciar seus deveres. Haverá juízo em todos os casos (ver 2Co 5.10; Ap 14.11).  

Este servo representa muitos crentes formais de hoje, os quais têm todos os privilégios do evangelho, mas nunca pensam em usar e aumentar a sua oportunidade de compartilhar esses privilégios com outras pessoas. Enterram cada talento que possui. De nada adianta a misericórdia de Deus. É pequeno o seu desejo de crescimento nas coisas espirituais, o desejo pela Palavra de Deus e pelo testemunho que salva as almas. Esconderam a sua luz debaixo do velador.  

“Certamente existem outros homens de um talento só neste mundo em número mais numeroso que os homens de dois e de cinco talentos. Só existem alguns poetas como Keats, alguns inventores como Edson, alguns estadistas como Lincoln, ou pregadores como Crisóstomo. Perigos peculiares cercam os homens de um talento só. Ele é tentado a dizer: com minhas poucas aptidões, pouco se pode esperar de mim. Que posso fazer? O homem de um só talento inclina-se para o ressentimento”.

O quadro de sua queixa transparece em sua verdade psicológica. Ele culpou a Deus, chamando-o de homem severo, além de acusa-lo de ceifar onde não semeia. A crítica a Deus e aos homens é o meio de escape de muitas pessoas que sentem e se ressentem de sua mediocridade.

 

 

III.             O RETORNO DO SENHOR E A PRESTAÇÃO DE CONTAS

“Depois de muito tempo, veio o senhor daqueles servos e fez contas com eles...”

A expressão “depois de muito tempo” leva-nos a considerar algumas lições importantes: Primeiramente nos remete à parousia de Cristo, ou seja, à promessa de que Ele voltará e requererá a prestação de contas da parte de todos os homens; segundo, tem a ver com tempo indefinido, a surpresa e imprevisibilidade do tempo de sua vinda. Precisamos ainda considerar que Jesus pode vir a nós em morte ou em vida. A lição que a parábola nos passa, portanto, é que devemos estar ocupados até que ele volte.

Outra consideração é que o servo negligente teve tempo demais para mudar sua postura e, portanto, não terá desculpa. Aliás, vale ressaltar, a parábola dá muita ênfase à importância do tempo, primeiramente afirmando que os dois servos produtivos “imediatamente” foram negociar e, no muito tempo em que o senhor esteve ausente, tiveram abundante tempo para usar todos os dotes e recursos disponíveis. Então vemos dois servos que não perderam tempo algum trabalhando na promoção dos bens do Reino de Deus, e outro que teve todo o tempo do mundo para se arrepender e mudar de postura, mas não o fez.  “Quem sabe amanhã” é o que alguns repetem pela vida afora.

Recompensa aos que usaram e multiplicaram os talentos que receberam

Ao perceberem a chegada de seu senhor aqueles dois servos se aproximaram confiantes. Não tinha nada que temer. Apresentariam o resultado da obediência, diligência e trabalho. Em contrapartida, ouviram, cada um por sua vez, de seu senhor: “Bem está servo bom e fiel. Sobre o pouco foste fiel, sobre o muito te colocarei; entra no gozo do teu Senhor”. Não existe nada na vida mais gratificante do que essa sensação de dever cumprido, de missão terminada, e ouvir do supremo avaliador: Aprovado. Aprovado por ser bom e fiel. E ser convidado honrosamente para participar da festa de seu senhor em sua companhia. Fico pensando o que muitas pessoas ouvirão no final da carreira.

O galardão do servo que enterrou o talento.

Diferentemente dos dois colegas, que se apresentaram com confiança, este servo chegou assustado, na defensiva. Normalmente as pessoas que, por negligência, não cumprem os deveres a que são comissionadas ficam na defensiva, sempre com um contra-argumento pronto, pois sabem que precisarão usá-lo quando forem cobradas. Ao perceber a chegada de seu senhor, este servo se apresenta num tom que beira a agressividade: “Mas, chegando também o que recebera um talento, disse: Senhor, eu conhecia-te, que és um homem duro, que ceifas onde não semeaste e ajuntas onde não espalhaste e, atemorizado, escondi na terra o teu talento; aqui tens o que é teu” (Mt 25.24,25). Vale comparar a amabilidade dos dois primeiros servos com a agressividade deste.

Existem questões que são evidentes por si mesmas. Talentos foram dados para serem trabalhados e não para serem enterrados. Jesus disse: não se pode esconder uma cidade edificada sobre a rocha. Por isso que o conceito original de pecado é errar o alvo, dando a entender que o homem, com sua vida, não cumpriu o propósito para o qual fora criado. Por isso que quem desperdiça seus dons fazendo com eles outra coisa que não seja o propósito para o qual os recebeu peca.

Justificando o injustificável. Ele justificou o seu ato negligente e irresponsável culpando o seu senhor: Eu sabia que és homem severo que colhes onde não plantaste e ajuntas onde não espalhastes; e, atemorizado, escondi na terra o teu talento; tens aqui o que é teu. É a racionalização da preguiça doentia, que não permite nenhum reconhecimento da própria preguiça, indolência e negligência.

Como parte do mecanismo de defesa da racionalização, tentou disfarçar a sua malignidade própria com outro sentimento humanamente compreensível e aceitável, o medo.  

Inconvencível pelas evidências claras. O problema de ele ser minoria. De três, apenas um fez uma leitura negativa do patrão. Quem estava certo? Agora vamos imaginar que este senhor era mesmo um homem severo, por que essa severidade moveu os dois primeiros numa direção diametralmente oposta a este terceiro?

As pessoas preguiçosas e de índole má passam a vida toda ensaiando um discurso de auto justificação.   

Movido sempre na direção do erro, mesmo quando o estímulo possibilita outras escolhas: “Se sabias que sou duro, por que não deste meu dinheiro aos banqueiros?”  

Por fim, só havia uma justificativa para o comportamento daquele homem: Ele era um mau e negligente servo.

Tirai: “Para que ter se não usa. Põe nas mãos de quem fará bom proveito: Tirai-lhe o talento e dai ao que tem dez...”.

Porque a qualquer que tiver lhe será dado, e terá em abundância, mas o que não tiver, até o que tem lhe será tirado. Jesus está falando do montante inicial e do lucro em relação ao montante. Ele quis dizer que a tendência de quem trabalha diligentemente o montante inicial que recebeu da vida, de Deus é acrescer ainda mais para que seja ainda mais útil, porém o que não faz nada com o montante que recebeu inicialmente da vida, o que não lucrou nada, a tendência é perder até o montante inicial. Essa perda pode acontecer por deterioração ou mesmo por apreensão.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 




[1] O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Volume 1 / Mateus e Marcos: p. 657.

domingo, 23 de maio de 2021

O PACTO DO CASAMENTO

 

 É melhor ter companhia do que estar sozinho, porque maior é a recompensa do trabalho de duas pessoas. (Ec 4.9).

 Assim, eles já não são dois, mas sim uma só carne. Portanto, o que Deus uniu, ninguém o separe. (Mt 19.6

Goza a vida com a mulher que amas, todos os dias da tua vida vã, os quais Deus te deu debaixo do sol, todos os dias da tua vaidade; porque esta é a tua porção nesta vida, e no teu trabalho, que tu fizeste debaixo do sol. Ec 9.9. 

 

VERDADE PRÁTICA

O nosso esforço deve ser por um pacto matrimonial/ que dure a vida inteira,/ e dure prazerosamente/ apesar das dificuldades que, sem dúvida, surgirão.

 

1. PACTO MATRIMONIAL

 Porque o Senhor foi testemunha entre ti e a mulher da tua mocidade, com a qual tu foste desleal, sendo ela a tua companheira, e a mulher da tua aliança. Ml 2.14.

Comecemos por esclarecer o sentido teológico-espiritual que fundamenta a instituição do casamento, ou seja, o casamento em relação a Deus. Por que será que Deus dá tanta importância ao casamento? E por que o bom casamento exalta a Deus? 

 Primeiramente, o princípio que estabelece o casamento remete-nos à ideia de pacto, palavra que acolhe o abrangente significado da relação de Deus na Trindade e entre Deus e seu povo.

 Na Bíblia, Deus escolheu a expressão pacto como um modo especial de demonstrar promessas inabaláveis. É, portanto, muito esclarecedor o fato de que Ele tenha vinculado o pacto ao casamento.

 A palavra pacto (cortar), na Escritura Sagrada, representa uma ocasião séria na qual as partes selam sua promessa no meio de um ato de dilaceramento de animais, o que envolve sangue, e tem embasamento bíblico-histórico no pacto firmado entre Deus e Abraão (Gn 15).

 O pacto matrimonial original foi alcançado quando Deus casou o primeiro casal, Adão e Eva. Então a importância que Deus deu ao fato de um homem e uma mulher manterem fidelidade um ao outro por toda vida é um tema recorrente em todo o Antigo Testamento.

 Deus estava criando, ainda no Éden, o modelo primeiro e último, e o mais adequado, do que seria o seu relacionamento íntimo com o seu povo, dentro de um modelo pactual, de corpo e alma.

 Somente o casamento, que é a relação mais íntima entre duas pessoas, tem condição de simbolizar a relação de Deus como o seu povo. Haja vista que, no Antigo Testamento, Deus é chamado marido de Israel (Os 2.2,20; Is 54.5; Ez 16.8-14) e no Novo Testamento, Jesus é chamado de noivo da igreja (Ef 5.25-27). Isso é muito sério.

 Destarte, O relacionamento de Deus com o seu povo é um envolvimento de almas, ilustrado pelo casamento.  Então, no casamento está em foco a ideia de união espiritual (depois que junta, não desmantela mais), e não apenas uma união social ou biológica. Isso nos permite dizer que, por ordem de Deus, haverá uma conexão mais íntima entre o homem e a mulher do que entre pais e filhos (Adam Clarke). E não há ninguém mais importante para uma pessoa do que seu cônjuge.  

 Será que a gente pensa nisso quando casa? Imagina! Enquanto namoramos, estamos sobremodo apaixonados, ou pressionados de mais para pensar nessas coisas. No dia do casamento, estamos exaustos e ansiosos demais para pensarmos nas palavras pactuais pronunciadas pelo celebrante. A preparação da festa, a roupa da noiva, o salão, os convidados etc. A cerimônia ocorre rápido, muitas delas não enfatizam um pacto, mas apenas um acordo.

 

 2. UM PACTO QUE DURE A VIDA TODA.

Assim não são mais dois, mas uma só carne. Portanto, o que Deus ajuntou não o separe o homem. Mt 19.6.

 Goza a vida com a mulher que amas, todos os dias da tua vida vã, os quais Deus te deu debaixo do sol, todos os dias da tua vaidade; porque esta é a tua porção nesta vida, e no teu trabalho, que tu fizeste debaixo do sol. Ec 9.9. 

 Ao escolher alguém para se casar, a pessoa está escolhendo aquele ou aquela que passará toda a vida ao seu lado, pois o casamento, na ótica de Deus, é indissolúvel. Por isso, os cônjuges devem zelar bem do relacionamento, tendo sempre o casamento em alto conceito.

 

2. Duas formas de fortalecer o casamento.

2.1 Decida que você vai ser feliz

2.1. Decidir afetiva e volitivamente que vai viver com essa pessoa.

Isso equivale a ter tudo em comum.

Valores: lealdade, companheirismo e cuidado.

 2.1.2 Eliminar o fantasma da possibilidade de separação, que enfraquece a aliança.

 Disposição para permanecer casados. Não me instes para que te abandone, e deixe de seguir-te; porque aonde quer que tu fores irei eu, e onde quer que pousares, ali pousarei eu (verso 16).

 O casamento não pode ser um projeto que se entra para arriscar. Nesse sentido não se pode deixar a porta entreaberta. É preciso ao mesmo de disposição para entrar, disposição para não sair.

 Nós não conduzimos nossa relação matrimonial dentro de uma possibilidade de rompimento. Portanto, nos momentos de tensão, nosso esforço deve correr sempre no sentido de resolver e superar, por mais difícil que pareça ser.

Todo casamento cujos membros têm a consciência permeada pela possibilidade de separação tem grandes chances de não dar certo, porque cada um dos cônjuges, nas horas de tensão, vai enxergar o fim do relacionamento como uma possível saída, boicotando as medidas corretas, e às vezes amargas, para pôr fim à crise. Ficam sempre em cima do muro e nunca tomam a real decisão de serem felizes a qualquer custo.  

Muitos dos desgastes que acontecem nos casamentos acontecem porque os cônjuges trabalham, consciente ou inconscientemente, com a ideia de que se não der certo, a fila anda, como se um pacto pudesse se desfazer facilmente.

2.3 Busque ajuda sempre que preciso. Por outro lado, quando os cônjuges têm um alto conceito da importância do casamento e decidem que vão superar quaisquer intempéries, são movidos a buscar todos os recursos disponíveis para salvar o que nunca deveria ter sido posto em risco.

Ademais disso, convém salientar que casar significa o sacrifício de todos os antigos caminhos e possibilidades precasamento.  Isso esta na sentença: “Deixará o homem seu pai e sua mãe, e se unirá a sua mulher...”.  Como posto por Champlin:

 

 “Quantos empreendimentos têm sido deixados de lado porque a pessoa envolvida não pode impedir-se de olhar para trás? Lembremos a esposa de Ló. Deixar o antigo para lançar-se ao novo é a primeira e grande garantia de sucesso. Um homem dividido entre a mãe e esposa acha-se sobre um alicerce muito fraco. Acabará não agradando a nenhuma das duas, e ambas serão infelizes com ele. Disse Adão: ‘Considere o modo como eu tive de fazer isso. Eu tinha somente a minha esposa’. Assim também qualquer outro homem, quando se casa, tem apenas a sua esposa. Visitas vindas de membros da antiga família serão suficientes. [...] O autor sagrado não nos encoraja a sermos negligentes no tocante aos nossos pais. Continuemos a servi-los, na medida do possível. O amor filial continuará rebrilhando. Mas ele diz: ‘Sai da casa de teus pais’. Uma mãe é como a terra natal de um homem. Uma esposa é como um país para onde ele migrou. Ninguém pode viver em dois países ao mesmo tempo. Tal homem ama a ambos, mas sua presença física manifesta-se na sua própria pátria.”

 

2.3 Renove seus votos, contra o desgaste e engano do tempo.

 E com o tempo a gente vai se acostumando a conviver com a presença de alguns e a ausência de outros.

 O tempo faz tudo se desgastar

O amor fica monótono, a saudade já não aperta mais,

a ansiedade torna-se inconstante.

e até as palavras passam a não expressar nada...

E o silêncio ajuda. Kaliandro Souza


A aliança matrimonial é a figura perfeita usada pela Bíblia para ilustrar a aliança entre Deus e seu povo. E da mesma forma que Deus costumava renovar frequentemente o pacto firmado com Israel (Gn 12, 15,16; Dt 29.1-29), numa prevenção contra a memória curta e o desgaste do tempo, o pacto matrimonial precisa ser periodicamente renovado.

A prática de renovação de aliança matrimonial está em ascensão atualmente. Várias celebridades têm reafirmado a lealdade ao parceiro em festas pomposas com direito a todos os rituais próprios do casamento, o que vejo como algo muito positivo.

Aos que não dispõem de tanto recursos, poder-se-iam aproveitar datas especiais, como o aniversário do casamento, para renovar a aliança e relembrar compromissos.

 Sou a favor de que haja memoriais em cada canto estratégico de nosso espaço para nos lembrar de nosso pacto matrimonial. Num lugar bem destacado da casa ou do escritório, um quadro com uma fotografia dos noivos no memento solene do matrimônio, bem como das testemunhas, como a olharem em nossa direção exigindo de nós o cumprimento das promessas firmadas no altar. No lugar onde eu passo maior parte do tempo em minha casa tem uma fotografia minha ao lado de minha esposa com a frase que colocamos no nosso convite de casamento há treze anos. Toda vez que olho para aquele quadro na parede, lembro-me de que jurei fidelidade eterna a uma mulher, isso assombra os fantasmas da possibilidade de rompimento.

 3. QUE DURE PRAZEROSAMENTE

Bebe da água da tua fonte e das correntes do teu poço. Sejam para ti só e não para os estranhos contigo. Seja bendito o teu manancial e alegra-te com a mulher da tua mocidade. Como cerva amorosa, e gazela graciosa, os seus seios te saciem todo o tempo; e pelo seu amor sejas atraído perpetuamente. (Pv 5.15-16).

 O passo mais importante para se ter um casamento feliz é a firme decisão de que se vai ser feliz no casamento.  

 O prazer e a felicidade são as aspirações que movem as pessoas, então são coisas que se encontram.  

Toda aliança matrimonial deve começar com a firme decisão das partes de que terão um casamento saudável e feliz, e esse é o passo mais importante para ser feliz no casamento.  Porque casamento feliz não é fruto do acaso. Casamento é uma instituição que, como qualquer relação na vida, precisa de investimento.  Considere.

3.1 Um casamento feliz só pode ser a soma das felicidades de duas pessoas que são felizes. Portanto é a entrega voluntária ao outro e a promoção do outro. Porém vale uma observação: quando eu me entrego ao outro, eu entrego aquilo que sou e tenho. Portanto um casal feliz pressupõe que cada um dos parceiros é o responsável direto pela própria felicidade e vai compartilhar isso com o outro. Por isso que a gente precisa se cuidar (ver o caso do marido adoecido).

 3.2 Investir em novidades (contra a rotina). Investir em novidades no casamento não significa fazer uma coisa nova toda semana. Deste modo, as novidades viram rotinas. Mas significa investir em novidade com qualidade.

 3.3 Investir numa vida afetivo-sexual plena e prazerosa (contra os tabus do sexo).

●Com o tempo, a qualidade conta mais que a quantidade.

●Os limites nas fantasias e criatividade sexuais devem ser traçados pelo bom senso, pelo consenso e pela consciência.

●Benefícios do sexo: vida mais longa, queima calorias, tonifica os músculos, menos riscos de doenças cardíacas, boa pressão arterial, alívio de dores, controle de peso alivia o estresse, melhora o humor, muito bom para a autoestima.

●Fatores que prejudicam a vida sexual (estudo no HC). Ansiedade, estresse, insônia, tabagismo, álcool, má alimentação, sedentarismo, medicamentos.

      

3.3 Investir numa vida saudável pode ajudar no desempenho sexual e, portanto, numa vida prazerosa. A preocupação com a saúde (dormir bem, exercitar-se, boa alimentação). Algumas recomendações: viva leve. Cuide de você. Não deixe que os outros vivam sua vida por você. Cuidado com a ansiedade. Nunca vire refém de nada nem ninguém.  

 

4. APESAR DAS DIFICULDADES QUE, SEM DÚVIDA, SURGIRÃO.

 No entanto, os que fizerem isso (casarem) terão dificuldades na vida (1Co 7.28).

 A gente já sabia que elas viriam. E elas se originam em alguns elementos.

4.1 Dificuldades da condição humana é uma fonte inesgotável de dificuldades, elas alteram e prejudicam muito as relações (crise financeira, doença, envelhecimento etc.). A gente precisa ter discernimento para entender o nosso momento e o quanto que isso está afetando a relação e buscar fatores de redução de danos.

 4.2 De nossas diferenças individuais. Cada pessoa é única e carrega manias e vícios que vão irritar a outros. Algumas coisas não mudam, porque estão arraigadas na personalidade. O segredo é aprender a viver.

 4.2 De nossas frustrações. As fantasias iniciais dão lugar à realidade. Sem tolerância, compreensão e autossacrifício não haverá casamento saudável, duradouro e feliz. Pegue todas aquelas regrinhas que te passaram: dar presentes, flores, passear etc., se não houver os elementos acima elencados, não tem casamento que resista. 

 4.3 De nossas diferenças de gênero. Existem diferenças quase insuperáveis entre homens e mulheres.

 O que as mulheres não devem esperar dos homens

►Que ele saiba ouvir como se fossem suas amigas.

►Não deem soluções precipitadas ou não ofereçam conselhos que não foram pedidos.

►Tenham uma sensibilidade parecida e deem importância às coisas que são fundamentais pra elas.

►Reparem nos detalhes, lembrem-se de datas e surpreendam as mulheres com propostas criativas.

►Sejam capazes de não interpretar literalmente o que as mulheres dizem e saibam captar as emoções de sua comunicação não verbal.

►Não interrompa à mulher quando ela fala.

►Não reajam mal quando estiverem fazendo alguma coisa e as mulheres lhe fizerem perguntas ou lhe pedirem ajuda em uma tarefa específica de casa.

►Que os homens gostem de fazer compras.

►Não seja um sexo maníaco.

 

O que os homens não devem esperar das mulheres

►Sejam diretas quando falam, sem se perder nos detalhes.

►Façam uma coisa de cada vez, quando a sua natureza lhes permite realizar várias tarefas ao mesmo tempo eficientemente.

►Saibam que eles não são bons conversadores e que não queiram falar com ele quando chegam em casa.

►Deixem de ser românticas e se mostrem pragmáticas nas relações afetivas.

►Respondam sexualmente da mesma maneira que eles.

► Não goste de fazer compras, falar de roupas, moda, etc.

  

5. UM PLANO

●Antes de tudo decida que seu casamento será uma bênção. Queira viver bem.

●Precisamos investir no casamento (dinheiro, tempo, comunicação).

●Precisamos ter uma opinião elevada do pacto matrimonial (contra a banalização).

●Pôr o casamento no lugar certo na escala de prioridades da vida (contra a inversão de valores).

●Que posição seu casamento ocupa na sua lista de prioridades?

●Ter uma opinião elevada significa avaliar quanto vale para você seu casamento ou seu parceiro. E avaliar significa comparar com as outras coisas. Qual é a real importância de seu casamento para você? Comparando com o seu trabalho, carro, carreira, ministério, amigos, qual a posição que seu casamento ocupa? Muitas pessoas vivem uma contradição muito grande entre o que dizem sobre o seu parceiro e a maneira como trata seu parceiro (dar o exemplo da amiga).

 ●Investir em comunicação. Nas entrevistas terapêuticas, descobre-se com frequência que o problema conjugal está na ordem invertida das prioridades estabelecidas, constatando-se que a família nunca esteve no topo dessa ordem. O seu cônjuge deveria ser o que você tem de mais importante na vida!

Quanto vale a sua família? O que o seu cônjuge significa para você? Será que algum sucesso, em qualquer área da vida, justifica o sacrifício de sua família? O que mais poderia assumir o topo das prioridades de uma pessoa do que essa instituição sagrada de cuja saúde depende uma sociedade saudável? Toda escolha que eu for fazer, preciso usar o meu casamento como parâmetro e perguntar se vai ser bom ou prejudicial a ele. 

                                                                                                                        Josafá Rosendo de Lima

quinta-feira, 25 de junho de 2020


LIÇÕES NO LIVRO DE RUTE PARA O BOM CASAMENTO

Disse, porém, Rute: Não me instes para que te abandone, e deixe de seguir-te; porque aonde quer que tu fores irei eu, e onde quer que pousares, ali pousarei eu; o teu povo é o meu povo, o teu Deus é o meu Deus. Onde quer que morreres morrerei eu, e ali serei sepultada. Faça-me assim o Senhor, e outro tanto, se outra coisa que não seja a morte me separar de ti (Rt 1.16).

I.                   A GRANDEZA DO CASAMENTO
Nós nascemos para amar/ A humanidade vai, cedo ou tarde, aos laços da ternura. Bocage. É uma necessidade humana irresistível desejar alguém, encontrar alguém, amar alguém e querer compartilhar com este alguém a vida. Em todas as culturas do mundo, é assim. Porque foi Deus quem colocou no coração humano. Fácil? Não. Mas é maior que nós.

A natureza do casamento.

1. O casamento é a aliança mais íntima, bela e séria estabelecida entre duas pessoas. Responsável direto pela harmonia social, pela subsistência da igreja e pela perpetuação da espécie humana, foi o próprio Deus quem o estabeleceu como mandamento universal. Em todas as sociedades humanas, a pessoas casam, prestam cultos e enterram seus mortos.  

2. O casamento honra a Deus, uma vez que, sendo a relação mais íntima entre duas pessoas, tem condição de simbolizar a relação de Deus com o seu povo. Haja vista que, no Antigo Testamento, Deus é chamado marido de Israel (Os 2.2,20; Is 54.5; Ez 16.8-14) e no Novo Testamento, Jesus é chamado de noivo da igreja (Ef 5.25-27).

3. É uma união espiritual. O relacionamento de Deus com o seu povo é um envolvimento de almas, ilustrado pelo casamento.  Então, no casamento está em foco a ideia de união espiritual (depois que junta, não desmantela mais), e não apenas uma união social ou biológica. Isso nos permite dizer que, por ordem de Deus, haverá uma conexão mais íntima entre o homem e a mulher do que entre pais e filhos (Adam Clarke). E não deveria haver alguém mais importante para uma pessoa do que seu cônjuge.

Responda:  
Que conceito você tem de casamento?
Qual o lugar de seu casamento na sua lista de prioridades?
A que você estaria disposto para salvar ou aperfeiçoar seu casamento?

II. LIÇÕES NO LIVRO DE RUTE PARA UM CASAMENTO SAUDÁVEL

Visão panorâmica do livro de Rute.

O Livro começa contando a história da hebreia-belemita Noemi que, por causa de uma grande fome, deixou sua cidade natal e foi, na companhia do marido e dos dois filhos, aventurar-se nas terras de Moabe. Após algum tempo, o marido morreu, e os filhos se casaram com duas moabitas, Rute e Orfa. Posteriormente os filhos também morreram deixando as três mulheres sozinhas. A partir de então, o escritor lança ênfase sobre a história de Rute, a moabita que se afeiçoou tanto à sua sogra que, precisando esta última voltar para sua terra e dando as suas noras a liberdade para decidir ficar, Rute desconsiderou todas as dificuldades de sua decisão e escolheu seguir Noemi. E o fez com uma declaração carregada de inestimável carga afetiva, reveladora do amor de Rute pela sua sogra.

Não me instes para que te abandone, e deixe de seguir-te; porque aonde quer que tu fores irei eu, e onde quer que pousares, ali pousarei eu; o teu povo é o meu povo, o teu Deus é o meu Deus. Onde quer que morreres morrerei eu, e ali serei sepultada. Faça-me assim o Senhor, e outro tanto, se outra coisa que não seja a morte me separar de ti.

Tal declaração é um verdadeiro poema que tem embalado namorados, poetas e pregadores em todos os tempos. Em que pese ter sido originalmente verbalizado para expressar a relação entre nora e sogra, as motivações da fala de Rute são fundamento de grande valia também para a relação conjugal. Vejamos.

III. OS FUNDAMENTOS DA DECISÃO DE RUTE

1. Uma decisão fundamentada no conhecimento acerca do caráter de Noemi.
Quando o outro inspira confiança, as decisões se tornam mais fáceis. Noemi era uma pessoa, como tal, constituída de virtudes e defeitos, mas havia algo nela que se sobressaía: uma mulher temente a Deus, altruísta, determinada, afetuosa e tinha a família em autoconceito. Era dura sem deixar de ser dócil.  Tais adjetivos  determinaram a decisão de Rute.

A gente se entrega voluntariamente a quem a gente conhece a ponto de confiar. Há pessoas cujo caráter e ações somente inspiram desconfiança, insegurança e medo.

Em minha opinião, isso é uma reafirmação de aliança. Ela tomou a decisão a partir da amizade que desenvolveu com Noemi no decorrer dos anos, bem como pelo conhecimento que tinha do caráter da sogra. Uma decisão dessa natureza, que envolve entrega total, compartilhamento de vida, religião, povo e lugar, só pode ser tomada a partir dum conhecimento profundo acerca do outro. Eu chamo de decisão de reafirmação da aliança. Então vamos responder algumas perguntas aqui.

a) Você conhece, de fato, o seu cônjuge?

b) Qual grau de conhecimento que você tem de sua personalidade, caráter e atitude? Confiaria nele pelo caráter que ele tem, a ponto de tomar uma decisão que comprometesse sua própria vida?

c) Você acha que seu caráter e ações sinalizam que seu cônjuge pode confiar em você? Você é uma pessoa confiável?

d) Você deixaria seu cônjuge livre para decidir ficar com você ou não? Caso se visse livre, escolheria ficar com ele?

2. Decisão fundamentada no coração: havia uma carga muito grande de afeto na relação entre as duas.

Então levantaram a sua voz, e tornaram a chorar; e Orfa beijou a sua sogra, porém Rute se apegou a ela (Rute 1.14).

Havia uma carga enorme de afeto na escolha

Rute se apegou à sua sogra. É uma decisão que envolve mais do que vontade, razão, precisa estar carregada de afeto. Tem coração na escolha, tem paixão, química. Se a base não tiver estes materiais, as simples cartilhas, conselhos, vontade não resolvem, principalmente quando as adversidades chegarem.

Rute amava sua sogra. É preciso gostar para tomar uma decisão dessa natureza. Se o casamento for arranjado e movido por outros interesses, a relação ficará insuportável.

Lembro que estava assistindo uma dessas aulas tendenciosas sobre os meios adequados para se escolher uma pessoa para casar. O professor apresentava uma cartilha como várias dicas sobre como pôr a prova o caráter do pretendido ou pretendida. Se é temente a Deus, se obedece e ama os pais, se gosta de trabalhar e estudar etc. Um aluno levantou uma objeção dizendo que quando conheceu a jovem que hoje é sua esposa, a amou com tanta paixão que se ela fosse o contrário de todos os adjetivos listados pelo professor, ainda assim teria permanecido com ela.

O coração requer afeto, emoções, poesia, cordialidade, toque.
a) O que você sente por essa pessoa que está do seu lado justifica está ao lado dela? Quando escolheu, o fez com o coração? Ela tem importância afetiva para você?
b) Seus olhos ainda brilham quando a encontra? Ainda sofre na ausência?
c) Se tivesse que tomar uma decisão crucial no sentido de repetir os votos e reafirmar a lealdade, escolheria ficar com essa pessoa novamente?

3. Uma decisão fundamentada nos próprios valores.

São os nossos valores que nos arrastam pela vida afora e balizam nossas decisões. Não existe boa e duradoura relação se a tal não for permeada por valores sólidos e eternos. Eis os valores envolvidos na decisão de Rute.

a) Compromisso (a ideia é bilateral).
b) Lealdade e fidelidade. Sem isso aqui é uma bobagem pensar em casamento saudável.
c) Sinceridade. Não dá para conviver com alguém que usa máscara o tempo todo.
d) Respeito. É a lei central da vida, principalmente quando se fala de dignidade.
e) Altruísmo (renúncia, empatia, compreensão, paciência, disposição para perdoar etc.).
f) O fruto do Espírito (Gl 5.12).

4. Uma decisão fortalecida pelo envolvimento de Deus como testemunha e fiador. Faça-me assim o Senhor e outro tanto, se outra coisa que não seja a morte me separar de ti (17).

Ela fez um juramento por alguém superior a ela que ficaria ao lado de sua sogra. Ela emendou o voto à sua sogra a um voto a Deus. Amarre seus votos em razões eternas.

Tudo começa com Deus. Ele é o que dá sentido a tudo. Perguntei para um amigo, casado há muitos anos, a que ele atribuía a causa de um casamento tão longevo. “Lealdade e temor a Deus”, ele respondeu. É mais do que fidelidade a uma esposa ou um esposo, é uma questão de fidelidade a Deus.

5. O resumo de tudo: uma questão de decidir.

Viver um casamento feliz passa vontade, determinação e perseverança. Não fique esperando a vida acontecer simplesmente: decida, trabalhe, invista, planeje.  

Rute decidiu viver com a sogra por toda a vida. Decida que você vai viver com essa pessoa, custe o que custar. Tudo passa pela vontade. Mas nem só de vontade viverá o homem. Trace um plano para que sua vontade se realize, porque você terá que afirmar a sua vontade até o fim da vida.

a) Você tem investido em seu casamento?
b) Quais recursos você acha que deveria investir para melhorar sua relação?

Resumindo, existem casamentos, casamentos felizes e casamentos infelizes, isso porque as relações são construídas com materiais diversos, sendo alguns principais: valores, afetos, crenças concepção de mundo etc. Quando temos bons tijolos, mas o cimento do outro é de péssima qualidade, fica difícil.