quinta-feira, 25 de junho de 2020


LIÇÕES NO LIVRO DE RUTE PARA O BOM CASAMENTO

Disse, porém, Rute: Não me instes para que te abandone, e deixe de seguir-te; porque aonde quer que tu fores irei eu, e onde quer que pousares, ali pousarei eu; o teu povo é o meu povo, o teu Deus é o meu Deus. Onde quer que morreres morrerei eu, e ali serei sepultada. Faça-me assim o Senhor, e outro tanto, se outra coisa que não seja a morte me separar de ti (Rt 1.16).

I.                   A GRANDEZA DO CASAMENTO
Nós nascemos para amar/ A humanidade vai, cedo ou tarde, aos laços da ternura. Bocage. É uma necessidade humana irresistível desejar alguém, encontrar alguém, amar alguém e querer compartilhar com este alguém a vida. Em todas as culturas do mundo, é assim. Porque foi Deus quem colocou no coração humano. Fácil? Não. Mas é maior que nós.

A natureza do casamento.

1. O casamento é a aliança mais íntima, bela e séria estabelecida entre duas pessoas. Responsável direto pela harmonia social, pela subsistência da igreja e pela perpetuação da espécie humana, foi o próprio Deus quem o estabeleceu como mandamento universal. Em todas as sociedades humanas, a pessoas casam, prestam cultos e enterram seus mortos.  

2. O casamento honra a Deus, uma vez que, sendo a relação mais íntima entre duas pessoas, tem condição de simbolizar a relação de Deus com o seu povo. Haja vista que, no Antigo Testamento, Deus é chamado marido de Israel (Os 2.2,20; Is 54.5; Ez 16.8-14) e no Novo Testamento, Jesus é chamado de noivo da igreja (Ef 5.25-27).

3. É uma união espiritual. O relacionamento de Deus com o seu povo é um envolvimento de almas, ilustrado pelo casamento.  Então, no casamento está em foco a ideia de união espiritual (depois que junta, não desmantela mais), e não apenas uma união social ou biológica. Isso nos permite dizer que, por ordem de Deus, haverá uma conexão mais íntima entre o homem e a mulher do que entre pais e filhos (Adam Clarke). E não deveria haver alguém mais importante para uma pessoa do que seu cônjuge.

Responda:  
Que conceito você tem de casamento?
Qual o lugar de seu casamento na sua lista de prioridades?
A que você estaria disposto para salvar ou aperfeiçoar seu casamento?

II. LIÇÕES NO LIVRO DE RUTE PARA UM CASAMENTO SAUDÁVEL

Visão panorâmica do livro de Rute.

O Livro começa contando a história da hebreia-belemita Noemi que, por causa de uma grande fome, deixou sua cidade natal e foi, na companhia do marido e dos dois filhos, aventurar-se nas terras de Moabe. Após algum tempo, o marido morreu, e os filhos se casaram com duas moabitas, Rute e Orfa. Posteriormente os filhos também morreram deixando as três mulheres sozinhas. A partir de então, o escritor lança ênfase sobre a história de Rute, a moabita que se afeiçoou tanto à sua sogra que, precisando esta última voltar para sua terra e dando as suas noras a liberdade para decidir ficar, Rute desconsiderou todas as dificuldades de sua decisão e escolheu seguir Noemi. E o fez com uma declaração carregada de inestimável carga afetiva, reveladora do amor de Rute pela sua sogra.

Não me instes para que te abandone, e deixe de seguir-te; porque aonde quer que tu fores irei eu, e onde quer que pousares, ali pousarei eu; o teu povo é o meu povo, o teu Deus é o meu Deus. Onde quer que morreres morrerei eu, e ali serei sepultada. Faça-me assim o Senhor, e outro tanto, se outra coisa que não seja a morte me separar de ti.

Tal declaração é um verdadeiro poema que tem embalado namorados, poetas e pregadores em todos os tempos. Em que pese ter sido originalmente verbalizado para expressar a relação entre nora e sogra, as motivações da fala de Rute são fundamento de grande valia também para a relação conjugal. Vejamos.

III. OS FUNDAMENTOS DA DECISÃO DE RUTE

1. Uma decisão fundamentada no conhecimento acerca do caráter de Noemi.
Quando o outro inspira confiança, as decisões se tornam mais fáceis. Noemi era uma pessoa, como tal, constituída de virtudes e defeitos, mas havia algo nela que se sobressaía: uma mulher temente a Deus, altruísta, determinada, afetuosa e tinha a família em autoconceito. Era dura sem deixar de ser dócil.  Tais adjetivos  determinaram a decisão de Rute.

A gente se entrega voluntariamente a quem a gente conhece a ponto de confiar. Há pessoas cujo caráter e ações somente inspiram desconfiança, insegurança e medo.

Em minha opinião, isso é uma reafirmação de aliança. Ela tomou a decisão a partir da amizade que desenvolveu com Noemi no decorrer dos anos, bem como pelo conhecimento que tinha do caráter da sogra. Uma decisão dessa natureza, que envolve entrega total, compartilhamento de vida, religião, povo e lugar, só pode ser tomada a partir dum conhecimento profundo acerca do outro. Eu chamo de decisão de reafirmação da aliança. Então vamos responder algumas perguntas aqui.

a) Você conhece, de fato, o seu cônjuge?

b) Qual grau de conhecimento que você tem de sua personalidade, caráter e atitude? Confiaria nele pelo caráter que ele tem, a ponto de tomar uma decisão que comprometesse sua própria vida?

c) Você acha que seu caráter e ações sinalizam que seu cônjuge pode confiar em você? Você é uma pessoa confiável?

d) Você deixaria seu cônjuge livre para decidir ficar com você ou não? Caso se visse livre, escolheria ficar com ele?

2. Decisão fundamentada no coração: havia uma carga muito grande de afeto na relação entre as duas.

Então levantaram a sua voz, e tornaram a chorar; e Orfa beijou a sua sogra, porém Rute se apegou a ela (Rute 1.14).

Havia uma carga enorme de afeto na escolha

Rute se apegou à sua sogra. É uma decisão que envolve mais do que vontade, razão, precisa estar carregada de afeto. Tem coração na escolha, tem paixão, química. Se a base não tiver estes materiais, as simples cartilhas, conselhos, vontade não resolvem, principalmente quando as adversidades chegarem.

Rute amava sua sogra. É preciso gostar para tomar uma decisão dessa natureza. Se o casamento for arranjado e movido por outros interesses, a relação ficará insuportável.

Lembro que estava assistindo uma dessas aulas tendenciosas sobre os meios adequados para se escolher uma pessoa para casar. O professor apresentava uma cartilha como várias dicas sobre como pôr a prova o caráter do pretendido ou pretendida. Se é temente a Deus, se obedece e ama os pais, se gosta de trabalhar e estudar etc. Um aluno levantou uma objeção dizendo que quando conheceu a jovem que hoje é sua esposa, a amou com tanta paixão que se ela fosse o contrário de todos os adjetivos listados pelo professor, ainda assim teria permanecido com ela.

O coração requer afeto, emoções, poesia, cordialidade, toque.
a) O que você sente por essa pessoa que está do seu lado justifica está ao lado dela? Quando escolheu, o fez com o coração? Ela tem importância afetiva para você?
b) Seus olhos ainda brilham quando a encontra? Ainda sofre na ausência?
c) Se tivesse que tomar uma decisão crucial no sentido de repetir os votos e reafirmar a lealdade, escolheria ficar com essa pessoa novamente?

3. Uma decisão fundamentada nos próprios valores.

São os nossos valores que nos arrastam pela vida afora e balizam nossas decisões. Não existe boa e duradoura relação se a tal não for permeada por valores sólidos e eternos. Eis os valores envolvidos na decisão de Rute.

a) Compromisso (a ideia é bilateral).
b) Lealdade e fidelidade. Sem isso aqui é uma bobagem pensar em casamento saudável.
c) Sinceridade. Não dá para conviver com alguém que usa máscara o tempo todo.
d) Respeito. É a lei central da vida, principalmente quando se fala de dignidade.
e) Altruísmo (renúncia, empatia, compreensão, paciência, disposição para perdoar etc.).
f) O fruto do Espírito (Gl 5.12).

4. Uma decisão fortalecida pelo envolvimento de Deus como testemunha e fiador. Faça-me assim o Senhor e outro tanto, se outra coisa que não seja a morte me separar de ti (17).

Ela fez um juramento por alguém superior a ela que ficaria ao lado de sua sogra. Ela emendou o voto à sua sogra a um voto a Deus. Amarre seus votos em razões eternas.

Tudo começa com Deus. Ele é o que dá sentido a tudo. Perguntei para um amigo, casado há muitos anos, a que ele atribuía a causa de um casamento tão longevo. “Lealdade e temor a Deus”, ele respondeu. É mais do que fidelidade a uma esposa ou um esposo, é uma questão de fidelidade a Deus.

5. O resumo de tudo: uma questão de decidir.

Viver um casamento feliz passa vontade, determinação e perseverança. Não fique esperando a vida acontecer simplesmente: decida, trabalhe, invista, planeje.  

Rute decidiu viver com a sogra por toda a vida. Decida que você vai viver com essa pessoa, custe o que custar. Tudo passa pela vontade. Mas nem só de vontade viverá o homem. Trace um plano para que sua vontade se realize, porque você terá que afirmar a sua vontade até o fim da vida.

a) Você tem investido em seu casamento?
b) Quais recursos você acha que deveria investir para melhorar sua relação?

Resumindo, existem casamentos, casamentos felizes e casamentos infelizes, isso porque as relações são construídas com materiais diversos, sendo alguns principais: valores, afetos, crenças concepção de mundo etc. Quando temos bons tijolos, mas o cimento do outro é de péssima qualidade, fica difícil. 


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